Na edição do Programa Horizonte 2022, cinco estudantes tiveram a oportunidade de realizar voluntariado no Campo de Refugiados de Malakasa, na Grécia, entre os dias 18 e 30 de agosto de 2022. 

Conhece abaixo as voluntárias: 

Inês Costa Louro: Olá olá! Sou a Inês Costa Louro, tenho 23 anos, e em setembro começo o meu último ano como estudante de Medicina na FMUL. Ao longo do meu percurso, estive muito ligada ao associativismo estudantil e a minha paixão sempre foram os projetos de intervenção na comunidade, não só por aproximarmos a saúde das pessoas, mas também pelo poder que a companhia e um sorriso podem ter para melhorar o dia de quem nos procura. Por isso, e por reconhecer a capacidade e facilidade que enquanto cidadãos europeus temos para intervir na restante Europa, candidatei-me a este projeto da FAL, com imensa vontade de intervir e ajudar no Campo de Refugiados de Malakasa!

Eduarda Gameiro: “Viva! Sou a Eduarda, tenho 21 anos e sou estudante de Mestrado em Gestão na NOVA SBE.
Anteriormente, durante a minha licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais, apercebi-me do desafio que são as crises migratórias, das suas razões de fundo e da dificuldade que é solucioná-las.
No Programa Horizonte vi a possibilidade de olhar de perto as condições destas pessoas que chegam até à União Europeia, perceber as suas necessidades, ajudá-las no curto-prazo e, de alguma forma, em colaboração e cooperação com os organismos europeus e o movimento associativo, auxiliar a criação de mecanismos eficazes para a integração dos refugiados nas comunidades de destino.
Tenho plena consciência da dimensão do desafio, mas há que começar por algum lado e motivação não nos falta!

 Susana Roxo: “Olá! O meu nome é Susana Roxo, tenho 19 anos e sou estudante de Enfermagem na Universidade Católica Portuguesa. Desde criança que sempre me interessei por ajudar os outros e em poder deixar a minha marca no mundo, pelo que comecei desde cedo a fazer voluntariado em diversas áreas. Fazer parte do Programa Horizonte e assim contribuir para a felicidade e o conforto de pessoas que se encontram em situações de maior vulnerabilidade, é algo que me motiva e incentiva a dar o meu melhor.”

 Inês Lourenço: “Olá! O meu nome é Inês Lourenço, tenho 22 anos e sou finalista de Ciências Farmacêuticas na FFUL. Sempre me senti muito realizada a fazer voluntariado, quer seja associativo ou humanitário. Direitos humanos e a crise migratória são um temas especialmente sensíveis para mim, daí o meu interesse e entusiasmo em participar no Programa Horizonte da FAL. Espero poder contribuir (nem que seja minimamente) para o bem- estar da população do Campo de Malakasa e sair uma pessoa melhor desta experiência.”

 Joana Matos: “Olá, sou a Joana, tenho 21 anos e sou estudante de Medicina na FMUL. Sempre fui muito participativa em associativismo e voluntariado e demonstrei grande interesse na área de defesa de direitos humanos e ativismo. Procuro utilizar o meu tempo altruisticamente, na construção de um mundo mais humano e inclusivo. O programa horizonte despertou-me particular interesse pelo trabalho desenvolvido no terreno, pelo intercâmbio cultural, e pela missão de inclusão. Por ir ao encontro de todos os valores que defendo, inscrevi-me neste projeto com a certeza de que irei ter um impacto muito positivo nas vidas das pessoas do campo de Malakasa.”

Diário de Bordo das Voluntárias 

Dia 1: “Chegada a Malakasa! A partir de hoje e, até ao final do Programa Horizonte, não percam os registos diários da nossa aventura!”

Dia 2: “Depois da nossa primeira noite nas Casa da REMAR, carregamos a carrinha com as doações de roupa de verão. Dirigimo-nos ao campo de Malakasa onde notamos a segurança apertada e condições acima das nossas expectativas. Cada família está alojada num contentor prefabricado, equipado com ar condicionado e caldeira alimentada por painel solar ao invés das habituais tendas. Se por um lado, encontramos muita roupa de homem e de bebé, havia uma notória escassez de roupa de senhora, adolescente, interior e sapatos. (Dica : quando pensares em doar bens, prioriza estes itens e coloca em caixotes e não em sacos) 💙 Até amanhã

Dia 3: “Com 1545 pessoas, o Campo de Malakasa distingue-se dos Campos de Lesbos ou Chios por ser um campo de estadia temporária ao invés de um campo de emergência. Aqui, os as pessoas refugiadas chegam para se estabelecerem enquanto aguardam a autorização do governo para entrarem legalmente na União Europeia. Aqui, o objetivo é aproximar o dia a dia da vida normal e por isso existem várias infraestruturas de uso quotidiano como a boutique, uma enfermaria, um contentor “ginásio” ou uma mesquita. Para além disso, as crianças vão à escola (e por isso a maioria sabe inglês e ajuda-nos na tradução com os pais) e as pessoas refugiadas podem sair livremente do campo e utilizar os transportes públicos que, para eles, são gratuitos. Espera pelos próximos dias para saber mais! 💙”

 Dia 4: “Aquando a abertura do campo, havia várias instituições a trabalhar em Malakasa. No entanto, com o passar do tempo, ao invés de um campo de emergência, este tornou-se um campo de residência prolongada, enquanto as pessoas refugiadas aguardam a emissão dos seus documentos. À medida que o número de residentes no campo foi diminuindo (uma vez que receberam asilo em diversos países) as organizações presentes também foram diminuindo. Atualmente, encontram-se apenas duas no terreno – a REMAR e a IOM. A REMAR, através do seu projeto SOS, atua em diversas vertentes. Foi esta associação que nos acolheu com imensa hospitalidade. Fiquem a conhecê-la! 🕊”

 Dia 5: “Como ainda não têm documentos, estas pessoas não podem trabalhar e, em tempo de férias, não há muitas atividades para ocuparem o seu tempo no Campo. Assim sendo, os jovens acabam por passar a sua manhã na Boutique connosco, ajudando de diversas formas. Sempre que vê uma peça de roupa no chão ou uma bancada desordenada, a Kamilia, de 12 anos, arruma-a prontamente. Já o Milad, de 17, esteve a traduzir entre Persa e Inglês para facilitar a nossa comunicação com os adultos. A nós, para além de muita companhia e conversas sobre o passado e o futuro, ensinaram-nos a dizer e a escrever palavras do dia a dia em Persa e Grego. Amanhã há mais! ❤️

 Dia 6: “Hoje o dia prometia ser exaustivo, esperava-nos uma manhã de distribuição de itens de higiene pessoal porta-a-porta, entre fileiras de contentores, sob o sol abrasador de Malakasa. Estas doações chegam à REMAR – Países Baixos, sendo depois transportada até cá. Infelizmente, não são perto de suficiente. Para um mês, recebem apenas um champô de 250 mL, uma pasta de dentes 50 mL, uma barra de sabão pequena que têm de ser suficientes para duas pessoas, e uma escova de dentes individual. Cada mulher recebe um pacote de 12 pensos higiénicos. Isto acaba por levar ao racionamento destes bens e da higiene pessoal e íntima de cada um ao longo do mês. Quando chegámos à zona do Campo com mais casas, imensos braços pequeninos estendiam-se para os nossos produtos, não para os levar para a família, mas sim para ajudar na própria distribuição. Cada criança fazia questão de carregar um caixote, arranjando uma “melhor amiga” voluntária que a coordenava. Uma menina batia à porta, alguém abria, e logo 5 bracinhos pequenos se estendiam para entregar um produto diferente. Entre entregas e “shalam” (olá em farsi), às vezes pediam colo ou simplesmente um abraço, após o qual nos olhavam com um sorriso do tamanho do mundo. Amanhã há mais! 🥰”

 Dia 7: “Hoje foi o segundo dia distribuições de bens de higiene no campo e houve alguns pormenores que nos alarmaram particularmente. Se já no primeiro dia tivemos de fazer alguns racionamentos na distribuição dos bens às famílias, como descrito no post anterior, hoje deparámo-nos com esta situação de uma forma ainda mais gritante: faltavam cerca de 50 contentores com famílias de 3 a 9 pessoas para terminarmos a distribuição quando acabaram as pastas de dentes e champôs, algo tão essencial na higiene diária de quem já tem de racionar estes bens durante um mês.

A verdade é que estes bens de higiene são distribuídos única e exclusivamente pela REMAR, que se vê financiada por doações privadas, uma vez que o governo deixou de financiar as associações que trabalham diariamente no campo, acabando também por não assumir esta responsabilidade. Se a REMAR não puder, por iniciativa e meios próprios, distribuir champô, sabão, pastas e escovas de dentes e pensos higiénicos, os residentes não terão acesso a estes bens essenciais e necessários que lhes conferem um mínimo de dignidade.
Neste sentido, apelamos a que contribuam, dentro das vossas possibilidades, com um donativo monetária para a REMAR que, estando em contacto diário com as necessidades reais das pessoas no campo, sabe melhor do que ninguém quais são as faltas a suprir.
Podem fazê-lo de duas formas: IBAN ou PayPal. Deixamos abaixo os dados:”
IBAN:
PIRAEUS BANK
NAME: PEMAP EP.PE.A.
IBAN: GR58 0172 0950 0050 9508 9342 910
SWIFT-BIC: PIRBGRAA
PayPal: pablolustres@remar.org 

 Dia 8: “Tal como podem ver na capa do post, os residentes mais jovens do campo têm acesso a aulas de música. Nestes contentores/salas de ensaio improvisadas, podem aprender piano, guitarra ou percussão, sendo doado 1 instrumento individual aos alunos mais promissores.
Mas a vontade de se expressar e de aprender não termina aqui. Por todo o campo encontramos grafismos, marcas de tinta e desenhos em contentores e muros. Esta é mais uma mostra do potencial humano nestes campos.
Têm sonhos, ambições e interesses, excedendo-se e sendo muitas vezes autodidatas pródigo, fruto da necessidade de terem uma ocupação ou skill que os tire da realidade dura que vivem ou viveram .
Um exemplo disso é o Milad, Afegão de 17 anos, que aprendeu a tocar guitarra no campo há 2 anos e que toca em conjunto com outros residentes. Este essemble dá 1 concerto por mês no centro de Atenas, o qual tivemos a sorte e prazer de assistir. Stay tuned para mais da nossa (quase finda) experiência”

 Dia 9: “Dia 26 de agosto- As crianças ✏️ Foi dia de fechar a “Boutique” e abrir as portas às crianças. Algumas mais envergonhadas que outras, foram entrando a medo e sentando-se numa roda. Ensinámos-lhes jogos da nossa infância, como o Jogo do Lenço, a Rabia e o Macaquinho do Chinês, improvisámos jogos de basquete e vólei.
    No entanto, o mais marcante foi quando dinamizámos uma atividade em que elas desenharam aquilo que “queriam ser quando fossem grandes”. Muitas ambicionavam ser médicas, advogadas, outras jogadoras de futebol ou gamers. Crianças com sonhos, sonhos esses que são oportunidades que nunca questionámos poderem estar fora do nosso alcance.
    O dia terminou com todas a vasculhar a “boutique”, sem nada levar. Experimentaram roupas, calçaram sapatos altos, fingiram maquilhar-se e sentiram-se modelos e princesas por um dia. Até amanhã ❤️”

 Dia 10: “Num mundo em que se fala constantemente de “Universal Health Coverage”, é interessante perceber as necessidades de Malakasa. No campo, existem 2 “contentor-consultório”, que contam com uma médica e uma enfermeira. Existem ainda 3 a 4 psicólogos. O acompanhamento é semelhante ao que existiria num centro de saúde em Portugal, sendo que maioritariamente são tratadas infeções, mas com a exceção de que não existem muitos doentes crónicos, uma vez que a população é jovem. Doentes mais graves são transferidos para um Hospital na cidade.
Os partos são realizados no Hospital mas o acompanhamento gestacional é feito no campo. As gravidezes são frequentes, uma vez que culturalmente os métodos contracetivos artificiais não são aceites.
Em relação Higiene Menstrual, notámos que a distribuição de pensos higiénicos não é consensual no campo. Alguns maridos não aceitam que estes itens sejam dados às suas esposas, levando-as a procurar estes produtos de forma discreta e diretamente no armazém. 🏥

 Dia 11: “Ao circular pelo campo é perceptível a necessidade de 2 direitos essenciais: direito ao trabalho e à privacidade.  As pessoas refugiadas não podem trabalhar legalmente no país que os acolhe até terem os devidos documentos. Assim sendo, suprem a necessidade de trabalho e ocupação não só pela prontidão com que se voluntariam para auxiliar os trabalhadores da REMAR nas tarefas diárias no campo, mas também pela criação de pequenas hortas. Por outro lado, tentam criar alguma privacidade nos contentores, construindo alpendres improvisados com restos de materiais que encontram no campo de Malakasa. 🌻

 Dia 12: “Num mundo em que, muitas vezes, a crise migratória é alvo de comunicação sensionalista, há uma espécie de corrida às doações. No entanto, a verdade é que há grandes falhas de certos bens, por vezes caindo no excesso de outros. Assim sendo, podem consultar na publicação os itens em que observamos mais escassez e sugestões para tornarem a vossa doação mais útil e friendly para quem coordena toda esta parte nos diferentes campos.
Contudo, nunca esqueçam: a doação mais valiosa é mesmo a monetária, para cada ONG poder potenciar ao máximo os seus recursos, investindo no que realmente faz falta. Assim, se quiserem ajudar as pessoas de Malakasa podem fazê-lo através de:”
IBAN:
PIRAEUS BANK
NAME: PEMAP EP.PE.A.
IBAN: GR58 0172 0950 0050 9508 9342 910
SWIFT-BIC: PIRBGRAA
PAYPAL: pablolustres@remar.org 

 Testemunhos: 

“O mais marcante foi quando dinamizámos uma atividade em que elas desenharam aquilo que “queriam ser quando fossem grandes”. Muitas ambicionavam ser médicas, advogadas, outras jogadoras de futebol ou gamers. Crianças com sonhos, sonhos esses que são oportunidades que nunca questionámos poderem estar fora do nosso alcance.”  

“Esta experiência (…) mostrou-me o quão gritante é o nosso privilégio e como é um dever nosso lutar e trabalhar pela dignidade de quem não teve a sorte de nascer no mesmo sítio que nós”